Recentemente, a EY conduziu um estudo no sentido de reunir as perspetivas de 1013 executivos de todo o mundo para perceber o impacto da mudança nas funções financeira e fiscal. A análise inclui 148 entidades do setor financeiro de 38 países e apresenta algumas conclusões surpreendentes.
No que se refere ao ambiente regulatório, o estudo conclui que as alterações legislativas e regulatórias requerem o aumento de recursos financeiros e humanos, o que se traduz numa estimativa de investimento, em média, de $8.3 milhões, sendo que 16% das entidades estimam investir mais de $20 milhões. Por outro lado, verifica-se que quase 2/3 do tempo das equipas associadas a estas funções é ocupado com tarefas rotineiras de baixo valor acrescentado.
Outro aspeto relevante respeita ao estado de maturação tecnológica que estas funções atualmente manifestam, sendo que as entidades do setor financeiro reconhecem a necessidade de assegurar as suas capacidades tecnológicas e de tratamento de dados. O deficiente ou inexistente plano de sustentabilidade tecnológico é muitas vezes apontado como sendo a grande barreira para a função fiscal não cumprir com o seu propósito e visão. Por outro lado, 70% das entidades do setor financeiro acreditam que a maior oportunidade para a redução de custos e aumento da qualidade na função financeira e fiscal reside na criação de uma estratégia tecnológica e de compreensão de dados para a automatização do trabalho.
Na perspetiva dos recursos humanos, quase 1/3 das entidades enfrentam dificuldades na atração e retenção de profissionais com competências necessárias e 2/5 reconhecem ter dificuldade em atribuir aos seus profissionais novas responsabilidades e oportunidade de evolução na carreira. A maioria (88%) das entidades do setor financeiro reconhece que, num horizonte temporal de 3 anos, as competências e capacidades dos profissionais das funções financeira e fiscal deverão passar a incluir competências relacionadas com tecnologia e processamento de dados.
Mas o dado que assume grande relevância neste estudo corresponde ao facto de praticamente todas as entidades (99%) se encontrarem a incorporar mudanças no modelo operativo das suas funções financeira e fiscal, sendo de destacar que 64% das entidades do setor financeiro assumem uma provável mudança, nos próximos 2 anos, para um modelo de co-source e uma vasta maioria (86%) assume ter um plano, também a 2 anos, de redução de custos nestas funções.
Em suma, torna-se claro e evidente a efetiva e atual preocupação das grandes instituições do setor financeiro mundiais em reestruturar e otimizar as suas funções financeira e fiscal, sendo já visível em alguns grupos financeiros mundiais uma estratégia baseada no outsourcing como resposta aos desafios cada vez mais globais que se apresentam. O “TGV” da transformação das funções financeira e fiscal já está em andamento. Resta saber se as restantes entidades do setor financeiro, em especial as estabelecidas em Portugal, terão a capacidade e a oportunidade de apanhar este comboio, ou se, pelo contrário, vão ficar sentadas a vê-lo passar a alta velocidade…