Essas tendências, com algumas diferenças claras dentro do próprio setor industrial, vão desde a Indústria 4.0, à necessidade de transformação de modelos de negócio em resultado da digitalização da economia, a uma aceleração do número de aquisições por parte de grupos industriais, sobretudo de empresas tecnológicas que possam trazer valor acrescentado, bem como à manutenção do foco na inovação para continuar a assegurar crescimentos numa época em que se perspetiva uma falta de talento e de recursos adaptados a estes desafios.
Os diversos stakeholders do setor estão a ser impactados por todas estas alterações que sucedem a um ritmo vertiginoso e que estão a afetar todo o ecossistema industrial. A tecnologia, a economia digital, o desenvolvimento das comunicações e a cada vez maior mobilidade do capital e do trabalho estão a alterar a forma como toda a cadeia de produção e distribuição, quer de entidades domésticas, quer de grupos multinacionais, está organizada. Por exemplo, no setor automóvel os construtores começam a adaptar as suas estratégias a um maior foco na prestação de serviços do que no produto (e.g., em resultado de novos modelos de consumo como o “car sharing”) sofrendo pressões em diversos sentidos dos próprios governos quanto à mobilidade individual.
Todas estas alterações continuam a alimentar o debate público que influenciou a iniciativa BEPS (Base Erosion and Profit Shifting) da OCDE. Este debate continua a reflectir sobre se o enquadramento fiscal internacional ainda se mostra adequado a esta nova realidade e se os grupos empresariais contribuem com um nível de “fair share” de pagamento de impostos em cada jurisdição. A OCDE e a União Europeia têm tentado contrariar esta perceção com ações que aumentam o nível de reporte fiscal e que reforçam as regras de substância e de transparência num ambiente de maior escrutínio.
Paralelamente, e neste âmbito, há também interesses conflituantes entre os diferentes países que igualmente afetam o setor industrial. Os mercados mais maduros estão a tentar criar um enquadramento fiscal que aloque os lucros às entidades que inovem e que sejam responsáveis pela tomada de decisões estratégicas, enquanto que os mercados emergentes pretender alocar os lucros à produção e ao consumo. Esta tensão vai criar ainda maior complexidade e riscos do ponto de vista fiscal, dependendo dos mercados em que grupos empresariais têm atividade.
Neste contexto, os grupos empresariais industriais deverão avaliar, à luz das regras fiscais e do BEPS, a forma como se encontram organizados, o que resultará, em muitos casos, na necessidade de reequacionar o seu modelo de negócio e a própria estrutura corporativa e financeira. A mera escolha do local em que se colocam os centros de controlo da manutenção remota de produtos industriais através de sensores ou a adaptação das cadeias de valor de produtos industriais à economia digital que as torna mais colaborativas com novos parceiros, são apenas exemplos de aspetos que determinam alterações com impactos fiscais relevantes.