Estamos perante uma nova tendência: a fiscalidade como instrumento de geração de valor.

Tradicionalmente, as decisões operacionais de negócio baseavam-se em informações e relatórios financeiros, contudo, a fiscalidade tem tido, cada vez mais, um grande impacto nas decisões corporativas e é vista hoje como um parceiro estratégico dos negócios.

Paralelamente, o panorama fiscal está a tornar-se cada vez mais complexo e competitivo, conforme surgem novas exigências regulatórias e de reporting, a que acrescem desafios como a escassez de talento e a pressão nos orçamentos, derivada da atual situação económica e de incerteza que atualmente vivemos.

Perante esta realidade e ritmo que se impõem, a função fiscal encontra-se com os holofotes virados para si, num ponto de inflexão para a mudança, sendo inevitável a sua otimização e transformação (digital). Os modelos operacionais da função fiscal baseados, tradicionalmente, em processos manuais, terão que ser revistos e forçosamente redobrar a sua colaboração com a função financeira.

Esta transformação dos modelos operacionais deverá, assim, basear-se na revisão de processos e de dados, fazendo uso da tecnologia que permita vincular as funções fiscal e financeira e aproximar o trabalho de ambas em tempo real, criando grandes oportunidades e sinergias.

Desta forma, com um maior alinhamento, os departamentos fiscais e financeiros conseguirão acompanhar rapidamente o ritmo de todas as mudanças e tornarem-se juntos numa força transformadora dentro da sua própria organização, aumentando o seu potencial para prosperar num futuro incerto.

O primeiro passo deverá ser, assim, a criação de uma estratégia tecnológica e de um plano de ação que sustente os novos processos, que inclua uma arquitetura robusta que relacione a função fiscal e financeira e que abranja todo o ciclo de vida financeiro e fiscal.

Esta abordagem revela-se de extrema importância uma vez que não basta considerar a implementação de tecnologia moderna per se, como a que tem permitido às empresas implementar ferramentas, em pequenos blocos (como por exemplo a automação) para resolver problemas específicos e imediatos. Com este tipo de implementação, que não se foca na big picture, nem na origem dos dados, estão a perder-se oportunidades de construir algo mais holístico, útil e robusto.

Assim, com um plano de tecnologia adequado, que providencie uma visão mais ampla, a função fiscal terá a capacidade de se ligar à função financeira e de se tornar numa força motriz na transformação dos negócios, por meio do estabelecimento de um ecossistema integrado de tecnologias emergentes, maduras e que se encaixem num quadro alargado de atuação e de resultados.

Estes resultados poderão atingir o seu ponto alto, se os dados forem tratados como ativo estratégico e estiverem no centro do plano. Aproveitar os dados ao máximo, abolindo o seu tratamento isolado e trabalhando no sentido da sua democratização, significa que as funções fiscal e financeira se devem alinhar, trabalhando juntas, para obter um maior valor.

O plano traçado neste âmbito deverá assim focar-se em garantir o máximo de aproveitamento destes dados, melhorando os atuais modelos operacionais, com a implementação de tecnologia que aumente a eficiência e permita fazer mais com menos, como o data analytics, machine learning, inteligência artificial e automação, garantindo que todas estas tecnologias trabalham sobre uma única fonte de dados. A criação desta única fonte de dados poderá ser efetuada através de investimento em arquitetura de TI (como sejam um conjunto integrado de tecnologia e serviços para fornecer dados de forma integrada e enriquecida de suporte aos processos analíticos e operacionais), a implementação de sistemas ERP de última geração (por exemplo o SAP S/4HANA) ou sistemas de gestão de performance empresarial (EPM – que consolidam a informação proveniente de várias fontes/ sistemas de origem e que podem ser usados para a realização de relatórios financeiros, planeamento financeiro, orçamento e previsões de tesouraria), entre outros.

Esta carga tecnológica será compensada, pelo facto da tecnologia se estar a tornar acessível a todos, uma vez que a IA e as outras tecnologias de ponta estão a ser incorporadas de forma invisível nas ferramentas, permitindo aos profissionais tirar o máximo benefício, sem que lhes seja exigido um perfil de cariz tecnológico.

Deste modo, assistimos, e continuaremos a assistir, a uma transformação no tratamento de dados na sua origem, na consolidação de tecnologias capazes de tratar devidamente estes dados e nas pessoas, que conseguirão integrar e produzir relatórios fiscais e financeiros, com o propósito de acrescentar valor aos processos e identificar novos pontos de melhoria.